20 de dez. de 2009

Melhor do que chegar é ter pra quem voltar

Nem avião, nem sequestro, nem tráfico internacional de órgãos. O que mais me afligia ao fazer essa viagem era que, na volta, Davi, meu sobrinho baby, estivesse falando Tia Celinha primeiro do que Tia Flavinha. Ou que ele me esquecesse, estranhasse, sei lá, qualquer coisa do gênero depois desse tempo longe. 


Logo eu e ele, tão íntimos. A gente tinha uma brincadeira só nossa: eu levantava ele bem alto e, na descida, ele mordia o meu nariz. Depois virou uma categoria vip de beijo: todo mundo ganhava na bochecha, o meu era sempre lá. Pois bem: aeroporto, família junta, mil saudades e eu, bem despretensiosa, vou falar com Davi meio que me reapresentando. Ganhei, sem pedir nem nada, um nariz babado e o dia.


Depois de matar a saudade dos de casa, está aberta a temporada delícia de almoços e cervejinhas com os amigos, pra responder a mesma pergunta: "Vai, conta, conta, como é que foi lá?". 


Tô chegando e, ao mesmo tempo, me despedindo. Muito obrigada a vocês que estiveram por aqui como ótimos companheiros de viagem. Beijos e abraços em todos.  Mas agora, com licença, que eu vou colher o resto dos meus.

19 de dez. de 2009

Lost

Pra quem não assiste a série, em Lost os personagens pegam uma avião que some do mapa e cai. Pois bem. Foi disso que eu mais lembrei no meu vôo de volta, quando a pilota da Delta (sim, era uma pilotA) avisou: 
"Senhores passageiros, queremos informar que a nossa aeronave apresenta falhas em um dos equipamentos e por conta disso precisaremos retornar imediatamente aos Estados Unidos"


Eu, que achava que a minha maior dificuldade da noite seria me acomodar naquela semipoltrona da classe executiva, não conseguia mais achar posição. Os outros passageiros também foram despertando um a um com cara de "ela disse isso mesmo ou era um pesadelo?". Mas a pilota fez questão de dirimir qualquer dúvida de que o bagulho era mesmo sinistro, mano, e continuou a explanação: " Informamos que o procedimento é de fato necessário,  pois trata-se de um equipamento muito importante para a aeronave, já que é através dele que podemos ser localizados no radar e pelas demais aeronaves em tráfego". Era ela falando e eu imaginando William Bonner narrando o mesmo enquanto aparecem aquelas simulações digitais de desastre no Jornal Nacional. 


Olhei pro GPS e vi o aviãozinho voltando de Cuba, querendo mesmo era que fosse possível ver ali se vinha mais algum na direção contrária. Começou a confusão, gente reclamando, criança chorando e quem não tinha ido com a cara do passageiro do lado virou íntimo repentinamente. Nem as comissárias, que geralmente têm aquela cara de paisagem, conseguiam disfarçar o nervosismo. Um passageiro foi perguntar quanto tempo ia levar pra chegar e levou um fora: " Se o senhor quiser, a gente continua, mas quero ver se assim dá pra passar da Amazônia". 


Ok, ok, comecei a rezar, a agradecer a  Deus pela minha vida e pela de todo mundo.  Pela sua, inclusive. Repeti não sei quantas vezes a lista de queridos na oração ( e olhe que são muitos) as horas se passando e nada de chegar. Até que não sei como o avião aterrissou, que beleza. Tô viva! Tô viva! Mão no coração, igual eu fazia quando era pequena, só pra me certificar de que não tinha morrido ainda. Chegou, chegou, que bom, que bom. Pronto?  Inventaram de dizer que iam consertar a peça, para protesto geral. Antes que virasse baixaria, resolveram que a gente ia ser transferido para outro avião. Mais 3 horas de espera. Eu tava que não aguentava. Pensei até em gritar: go get Jack!, pra ver se o herói do seriado aparecia pra me salvar. Mas se tem compahia aérea que não tem nem mecânico direito,  quem dirá ter um médico gostosinho de plantão.

13 de dez. de 2009

Deu a louca nos comments

Bocado de gente escrevendo dizendo que não consegue mais comentar... Rapái, sei o que é não... Quem tiver alguma pista, favor mandar email : flavinha-marques@hotmail.com

12 de dez. de 2009

O que é o metrô de NY?









É uma punk com 13 anos e 31 piercings.  

É um novelo de linhas coloridas onde brincam os gatinhos de Wall Street. 

É um palco onde se revezam um negão com um sax, um chicano de viola e uma sósia de Janis Joplin.

É um casal de orientais de mãos dadas cochilando um no obro do outro, enquanto você tenta adivinhar se eles estão de olhos abertos ou fechados.


É uma briga que acontece exatamente no seu vagão e uma polícia que adivinha e aparece na próxima parada. 


É uma família de judeus ortodoxos, em que até o menininho de três anos tem a cabeça raspada e um cachinho caindo em cada orelha.


É ter paciência com a interminável obra nos trilhos e eventuais mudanças de linha. (coisa besta, dia sim, dia não:)


É ouvir  "This is a Manhattan bound" quando você quer ir pro Queens e "This is a Queens bound" quando você jurava que tava indo pra Manhattan.


É sonhar com o mesmo locutor sacaninha repetindo, o tempo todo: "Stand clear of the closing doors, please", como se fosse possível se afastar da porta na lotação da hora do rush.




É a locação de Men in Black e Madagascar, se o trem parar na Grand Central.

É onde o vento faz a curva, e o pensamento, não.


É um desfile de moda contemporânea, urbana, chique, despojada, avant-garde, retrô, com peças que exploram bem a alfaiataria, carpintaria, maçonaria, padaria, meu deus, que fauna maravilhosa é essa?


É um mundo inteiro que cabe em um buraco no chão. 


É uma menina morrendo de saudade, que apóia a cabeça na janela e sonha que a próxima parada seja no Brasil.


11 de dez. de 2009

Dorme neném

Tudo bem que o metrô tava demorando, mas essa criatura não precisava ter caído de sono, babado e roncado por cima de mim, né?






Hitler versão promo

Dizer o que vi de mais chocante na parte do museu judaico daqui que trata do Holocausto é complicado, mas sem dúvida o que vi de mais curioso e absurdo foi um joguinho para crianças, bem bonitinho, com tabuleiro alegre e peças coloridas, cujo objetivo era... exterminar bonequinhos judeus. Uia. 

Museum of Jewish Heritage: http://www.mjhnyc.org/


6 de dez. de 2009

Tempo bom

Começou a nevar. Tão lindo. 
Mas calorzinho de Recife sobrando eu compro. Ainda bem que Thomas e Fati
trouxeram um bocado.







                            




3 de dez. de 2009

Strip tease beneficente

E aí que eu fui, sim, ver Jude Law (ai...) em Hamlet. Lindo e incrível no palco, só imagino que ele filmou ao lado de Natalie Portman e Camerom Dias de tamburete :) Mas tudo bem. Vi também Hugh Jackman e Daniel Craig em A Steady Rain, ave maria, cheios de graça. Nada de cara de macho brabo de 007 ou Wolverine. Os músculos, devidamente escondidinhos num figurino comportado. Nenhum gritinho na platéia mista, fina e adulta do Gerard Schoenfeld Theater. Até que no final eles avisam que estão arrecadando grana para uma instituição de caridade, que vão fazer um leilão das camisas e começam a desabotoar o colarinho. Pronto. Acabou-se toda a classe do lugar. Uma mulher, ao lado do marido, gritou: "vocês aceitam American Express?". Uma outra levantou a mão oferecendo U$1000, seguida de mais um monte de doida se descabelando pra pagar mais e mais. Terminou em U$ 10000, com um dos caras dizendo: "minha querida, por esse valor eu também te dou a calça e a cueca". As peças? Ah, sim, são muito legais

2 de dez. de 2009

Museum of Sex

Pequenininho, mas satisfaz. 
233, Fifth Ave.

1 de dez. de 2009

Central Park na melhor companhia

Viajar sozinha tem suas vantagens, mas tem hora que dá um nó no juízo. Às vezes me dá saudade de coisas mega específicas, como morder a batata do meu sobrinho. Saudade que eu não vou mais poder matar depois que Claudinha, minha irmã, ler esse texto, descobrir a minha trela e me incluir naquela categoria Dado Dolabella de lei que proíbe a pessoa de ficar a menos de 250 metros de alguém. 
De vez em quando me pego falando só, o que até então achava que era coisa de personagem de novela. Sabe o que é, é que esse negócio de passar muito tempo com a sua própria companhia faz você pensar na vida com mais frequência e profundidade. Ainda mais se for andando de bicicleta, numa tarde linda no Central Park. Cada curva era um pensamento. Embalado por Bob Dylan soprando, docemente, ao pé do meu ouvido: the answer, my friend, is blowin' in the wind.

29 de nov. de 2009

Dúvida cruel

Ai, meu Deus, quem eu vejo 
primeiro na Broadway? 
Hugh Jackman ou Jude Law?



27 de nov. de 2009

Roupa suja se lava em casa

Ou, mais especificamente, no térreo do prédio, pra quem tem sorte de ter uma lavanderia no edifício como eu. Não sei o que o povo aqui tem contra área de serviço. Nunca vi uma. Nem varal nos apartamentos tem,  o que me levou a aderir a uma Técnica Milenar Avançada de Pendurar Calcinha Dentro do Guarda-roupa. Já as peças maiores, não tem jeito de lavar em casa. Por isso é muito comum ver as pessoas nas ruas carregando seus molambinhos rumo à Dry Cleaner do bairro. Ainda bem que onde moro só preciso pegar o elevador. Quer dizer, pegar o elevador três vezes, para lavar, secar  e trazer de volta minha trouxa. Não sei o que seria de mim sem uma ajudante como a modelo, manequim e atriz Luli Rique, que vai mostrar pra vocês como é que se faz.


1- Coloca-se o sabão e a roupa na máquina.




2- Paga-se 12 moedas de 25 cents para usar a lavadora e a secadora.





3-Retira-se a roupa das máquinas alegremente,
antes que algum vizinho esquentadinho 
chegue e espalhe tudo pelo chão.
















Ceguinho safado

-Quer ajuda para atravessar a rua?
-Claro, claro.
-Você tá indo pra onde?
-Você tá indo pra onde?
-Metrô da Lexington. 
-Então também estou indo pra lá.
Ceguinho 1 x 0 Flavinha 




-Você é daqui?
-Não, sou brasileira.
-Hummm. Brasileira.
-Tá fazendo o que aqui?
-Vim estudar roteiro. 
-Então você deve ser muito bonita, atriz. 
-Não, eu sou muito feia, por isso só posso trabalhar atrás das câmeras. 
Sabe como é, ninguém pode ter tudo.
-Eu é que sei. 
Ceguinho 2 x 0 Flavinha 


- Sim mas, o que você vai fazer hoje à noite?
- Vou sair com meu namorado.
- Vá não. Vamos para a minha casa.
- Que é isso. Eu sou uma garota comportada. 
  E vou deixar ele esperando?
- Nada. Liga pra ele e diz que você teve
 um blind date.
Ceguinho 3 x 0 Flavinha









22 de nov. de 2009

Mesa para dois

Namorado na cidade é igual a cantinhos charmosos para passear.
Aqui vão os nossos preferidos:


Café ou Brunch no Good Enough to Eat 
Adoramos o nome e o lugar. Parece casinha de vó, com comida de vó, mas é frenquentado pela galera jovem e descolada do Upper West side. Tem uma tal de manteiga de morango caseira lá que meu deus do céu, a gente pediu a receita e eles, simpaticamente, deram. Vai virar comida de neta. 483, Amsterdam Ave (83rd Street).


Almocinho no Beyoglu 
Bem lindinho. Cozinha mediterrânea, cerveja turca, os nomes dos pratos são tão esquisitos que não dá pra saber exatamente o que vem, mas pode pedir qualquer coisa, que a surpresa vai ser boa.  1431, 3rd Ave.



Jantar no Blue Ribbon
É a cozinha onde os chefs da cidade se encontram de madrugada depois que cada um desliga o seu fogão.Num dia de sorte você pode arregar quitutes da farra deles por conta da casa. Por sua conta mesmo, vá avisado que é mais caro que a média, mas vale a pena. Super modernete, música massa, tudo delícia, principalmente a sobremesa Bruno Chocolate7, Sullivan Street.










16 de nov. de 2009

Carrapato de gente

Minha gente, aqui tá rolando uma praga de bed bugs, que são tipo uns percevejos sanguessugas que se alojam no colchão e aparecem à noite, vigemaria. Uma vez que eles estão no ambiente, você precisa ou lavar tudo ou jogar tudo fora, porque eles se multiplicam logo até que fica fora de controle. Já tinha ouvido falar, mas achava que era meio lenda urbana, até que uma menina do meu curso aparece toda marcada da cabeça aos pés das mordidas desses malassombros. Tadinha, bem branquinha, com um milhão de bolotas vermelhas. Era a visão do inferno. Praticamente uma bandeira do Náutico.

10 de nov. de 2009

School of Visual Arts - Cursos






Sim, mas, além de farra, o que é que eu tô fazendo aqui? Vim estudar na School of Visual Arts, a SVA, onde estou fazendo cursos de roteiro e criação. É uma faculdade massa, que oferece formação em Cinema, Design, Publicidade, Ilustração, Animação, Fotografia, Artes Plásticas e outras coisas divertidas. Tem cursos regulares e outros de Continuing Education, os que escolhi. São legais pra quem vem de fora porque você pode montar a sua grade de estudo com várias áreas de interesse ao mesmo tempo e depois continuar os módulos. Muito doido, mas a duração é de acordo com as estações do ano. Minhas turmas são as do Fall (outono). Tô adorando. Quem me indicou a SVA foi Rique, que também já estudou lá. Aqui vai o link para quem quiser saber mais: 
http://prevnewsva.schoolofvisualarts.edu

8 de nov. de 2009

Blind date

Desde que eu cheguei tentava me encontrar com Aila, uma amiga do meu amigo Rodrigo Miau, e nada. Toda vez a gente se desencontrava, ou marcava e depois não podia, enfim. Finalmente a gente conseguiu marcar pra sexta e juramos não furar. Na hora combinada tô eu lá, na frente do Session 73, que é um barzinho massa onde também tem show, mas cadê a menina? Meu celular não pegava direito, o dela na caixa-postal. O pior é que o lugar ficava numa esquina e todo mundo que passava na rua já tava olhando pra mim achando que eu tava parada ali a trabalho. Resolvi entrar pra procurar ela. Mas peraí, procurar quem? Só sabia que era morena e que ia com mais duas amigas. É isso que dá essa minha falta de hábito de futucar o Orkut dos outros. Vem a hostess falar comigo. Pergunto se ela viu chegar alguma brasileira com uma russa e uma japa. Nops. Volto pra calçada porque lá dentro não dava pra ouvir o celular. Vem um cara puxar conversa. Era da banda que ia tocar naquela noite. Antes que ele perguntasse quanto eu era, fui logo contando a história. Ele se comoveu e gostou da idéia de ir lá dentro procurar uma brasileira, uma russa e uma japa. Volta ele dizendo que também não achou. Antes de ir embora, decidi fazer mais uma tentativa.  Saí de mesa em mesa perguntando: "Are you called Aila?". Em vão. A essa altura o bar todo já tava achando que eu tinha uma amiga imaginária ou que tinha levado um bolo num encontro gay. Até que meu celular toca e chega Aila, coitada, explicando o imprevisto que teve e depois, Diana e Rudi, meus roomates. Todo mundo se adorou. Noite feliz. E eu logo voltei à minha condição de garota de família.









5 de nov. de 2009

É pra rir ou pra chorar?

E lá vêm os irmãos Cohen bagunçar o coreto com mais um filme divertidíssimo.  
Vi A Serious Man assim que estreou em NY pra rir primeiro e melhor. Até que: êpa. Tem coisa aqui de que não dá pra achar tanta graça não.


É a história de um homem honesto que só se lasca. E de repente você se pega com o coração apertadinho pensando porque é assim. Por que tanta gente legal passa por situações que não merece? Por que tem tanto mala no mundo que só se dá bem? 


Esse um tema que me interessa e que adorei quando vi retratado também recentemente numa peça chamada A Alma Boa de Setsuan, com Denise Fraga, em Recife.  É um texto massa de Brecht, dramaturgo alemão, que faz refletir sobre coisas como "Por que a bondade não é recompensada e a maldade é premiada?". E que é triste, mas é verdade.


Falando em tristeza, aproveito pra contar também que fui ver This is it, filme com o registro do que seria a última turnê de Michael Jackson, anunciado por aqui com grande estardalhaço, com sessões por tempo limitado e que também já estreou no Brasil. 


Diferente daquela coisa bizarra e intocável que a gente era acostumado a ver nas revistas, no documentário ele aparece mais humano, mais frágil, até cansadinho depois de uns passos mais puxados. Estrela, sempre estrela, mas com uma gentileza no trato com a equipe, uma doçura na voz e no olhar que até nos faz esquecer da cena do bebê na janela, das brincadeiras de Peter Pan de madrugada com os menininhos e das ex-esposas café-com-leite. Dá uma pena. Pra chegar a esse ponto de doidice, que criatura mais atormentada deve ter sido esse tal de Michael Jackson. 


Corta para a coreógrafa ensaiando e mandando todos os bailarinos pegarem no pinto pra ela ensinar como é que se faz pra dançar igual a ele. O cinema todo ri até derramar a pipoca. Passa amanhã, melancolia. O cara foi embora, mas mandou avisar que a vida pode até ser meio complicada, mas a gente tem mais é que rebolar e se divertir. 









1 de nov. de 2009

Amy Winehouse no Halloween

Bem, acabo de descobrir que Halloween não é exatamente gente vestida de monstro como a gente vê nas festinhas dos cursos de Inglês. Tá mais pra Carnaval do que Dia das Bruxas. Tem desfile na avenida, carro alegórico, orquestra e até bateria de samba.


Tem também uns personagens mais originais, estilo Olinda, como uma figura vestida de moita com uns peitões, nos quais esbarrei na rua. Perguntei onde ele/ela tinha comprado os anexos, pra ouvir: "Foi Deus quem me deu". 


Não sabia direito como era o esquema das fantasias aqui, então arrumei uma peruca de Amy Winehouse e fui pra festa meio desconfiada de estar  out. Para a minha surpresa, foi um sucesso. Cada mergulho era um flash. "Amy, posso tirar uma foto?" "Amy, sou sua fã"."Amy, me dá um autógrafo?". "Amy, pensei que você já tivesse morrido". "Amy vem dançar aqui". "Amy, desce da mesa, senão quebra".  Era o garçom. Uma pessoa famosa também não pode fazer nada.















27 de out. de 2009

Mais uma grávida

Muita calma nessa hora, que ainda não foi a minha vez. É Celinha, minha irmã, quem tá esperando bebê. Mas quem fica com desejo sou eu. Queria muito estar em casa agora pra dar um monte de beijo nela. Como assim, minha irmãzinhazinha caçula vai ser mãe? Peraí, um dia desses eu não tava tirando ela do berço sem ninguém ver e dando resto de mamadeira do dia anterior, como se aquela coisa fofa galega de meses fosse minha bonequinha? Ainda é. Que bom que apesar das minhas trelas ela sobreviveu e agora vai passar pela que talvez seja a maior das aventuras na vida. Fiquei sabendo pelo Skype, família toda junta, coisa linda. Esse mundo tecnológico cada vez mais doido tem isso de bom. Ao mesmo tempo, fiquei me sentindo tão distante, meio de penetra na festa. Já vi que vai ser uma barriguinha linda crescendo, e minha saudade também.

24 de out. de 2009

Do Bar do Neno para o Eamon's Bar

O objetivo era apenas tomar uma cerveja maloqueira com Dan Dan. Sendo que junto com ele acabei encontrando um povo muito fino e fofo, mas super da galera, porque de frescura nessa vida já basta o frio que tá fazendo aqui. 


Conheci a namorada dele, Gabi, coisa linda, da arte e da moda, cujo único defeito aparente foi ter esbarrado em Mr. Big, o galã de Sex and the City, na minha ausência.


Conheci também Duda e Marcelo, casal massa. Ela acabou de voltar do Egito, onde foi apresentar o documentário Calling Home, e ele é o roteirista do filme Jean Charles.


Gente do bem, papo delícia, mil histórias e uma noite para beber e não esquecer.  



   


21 de out. de 2009

A mulher melancia

A única gringa com bunda que vi nessa cidade. 






20 de out. de 2009

Cocotando

Tava passeando na Flea Market, uma feira de rua cheia de expositores maluquetes, peguei outro quarteirão e sem querer acabei emburacando na Delphinium Home, uma lojinha massa de coisas de casa. Os donos são uma simpatia e têm mais duas lojas legais, bem pertinho dessa aqui: uma papelaria de mesmo nome que também vende objetos e outra de roupas para garotos modernetes (Wear me out). Visitei as três e, por incrível que pareça, não aconteceu nenhum incidente. Logo, posso voltar nelas com quem vier aqui me visitar. Pra quem vem depois, 
fica o endereço: 653, 9th Ave, no West Side.







19 de out. de 2009

O que não esperar das pessoas

Faça chuva ou faça sol (geralmente chuva), em Nova Iorque ninguém anda. Corre. Ninguém come. Engole.


Estou numa mesa para dois, vem um garçom e pergunta quantas pessoas vão chegar. Expliquei que tava esperando um amigo. O garçom aponta pro balcão e fala, meio abusadinho: "Então  por que você não espera ele ali?". Ok. 
Vou embora. O lugar não era lá essas coisas todas mesmo.


Aí outro dia vou passando em frente a um restaurante massa e a hostess me convida para entrar. Agradeci, disse que já tinha almoçado, mas ela insistiu e me convenceu a experimentar um Tiramisu caseiro delicioso. E era mesmo. Fora que o lugar era lindo, charmoso, cheio de velinhas. Fiquei pensando em quanta gente querida queria levar ali. Mudei de idéia.


Cinco minutos depois, vem o garçom com a conta que eu nem tinha pedido ainda, me dá uma cutucadinha e diz: "Dá licença, estamos precisando da mesa". Não era possível. Ele que tinha me acomodado ali. Tinha um monte de mesa desocupada ao lado. Seria alguma coisa errada com a minha roupa? Com o desodorante? Alguém teria cochichado no ouvido dele algo sobre o meu passado no bairro da Mustardinha?


Três dias elocubrando que danado eu tava fazendo de anormal nos restaurantes locais, até que me deparei com essa plaquinha aqui numa padaria, botando o cliente pra fora, sem nenhuma cerimônia, se demorar mais que o tempo regulamentar:





Uma plaquinha, não. Eram cinco. Uma ao lado da outra, pra ficar mais do que claro a qualquer desavisado como eu que ali se deve e mastigar e zarpar. Ou seja, eles têm uma verdadeira paranóia com demora nas mesas por aqui. Algo como, a gente está fazendo o favor de vender comida a você, que faz o favor de dar lucro pra gente. Uó. Uó. Uó.


Mas nem tudo é dureza nessa cidade. Em meio à frieza e de tantas pessoas correndo pra lá e pra cá, também é possível se deparar com gente sensível e sem pressa alguma. 


Como uma senhora desconhecida que se aproximou pra conversar comigo num café, num dia em que eu estava triste. Do nada, veio me dizer que eu era uma pessoa boa e bonita, que eu não me preocupasse, que tudo ia ficar bem. Ou como um senhor que zerou o taxímetro e deu várias voltas só pra me mostrar exatamente onde ficava o próximo lugar que eu ia e ainda me devolveu a gorjeta. Tudo isso na mesma noite, com uma doçura rara de se ver por aqui. Vai ver eram dois anjos-avós.

17 de out. de 2009

Michael não morreu

Encontrei essa figura no caminho da Times Square. Deu vontade de imitar ele fazendo moonwalk, mas acho que a minha cota de micos em Nova Iorque já foi.




15 de out. de 2009

Achei e não achei

Muito obrigada a todos que mandaram emails para me ajudar a achar um apartamento. And the winner is...  Serginho de Carlota, que me passou o contato de Diana, uma argentina com quem estou dividindo um cantinho legal. Mas se a sua carta não foi contemplada, corra, ainda dá tempo de participar. Só posso ficar aqui até o fim do mês e continuo aceitando sugestões de lugar com um ou dois quartos.

14 de out. de 2009

Kandinsky no Guggenheim


   

Sabe aqueles copos de plástico que montam e desmontam com várias camadas redondas? É dentro de um desses que você se sente no museu Guggenhein. Interessante é que não tem guia. Tem audio tour. Entrei, recebi um fone e um gravadorzinho com uma mensagem que ia explicando cada parte da exposição. Depois saí viajando em círculos e em telas incríveis. E de 
repente uma cidade cinza ficou toda colorida.

11 de out. de 2009

Et, telefone, minha casa

Acabei de sair correndo do apê em que eu estava por motivos inacreditáveis.
Quando chegar eu conto. Agora estou num YMCA, que é tipo um albergue
massa e carinho. Por isso, logo, logo estarei sem teto. Até porque em NY é super difícil encontrar um cantinho legal, por um preço bom, em pouco tempo. Então, se alguém aí tiver alguma sugestão para me salvar, por favor mande um email para flavinha-marques@hotmail.com ou ligue para 646 320 2704, que é o meu celular aqui. Se vc tem alguma dica de lugar pra eu ficar disque 1. Se vc tem algum amigo gente fina que tope dividir, disque 2. Se vc acha que eu devo começar a pensar em vender o corpo, disque 3.

7 de out. de 2009

Ladra involuntária

É assim: por mais maloqueira que seja a sua natureza, você bota uma roupa de frio e fica, automaticamente, rica e chique. E cá estou eu, cocotando na Lexington Avenue, vendo meu reflexo nas vitrines, toda empacotada, e sonhando: "nossa, como eu sou rica, como eu sou chique", até que me deparo com um acessório que antes não estava no meu figurino. Tinha uma calça pendurada no meu ombro com uma etiqueta balançando. 


Fiquei bege-claro- café-do-starbucks. Era uma roupa que tinha pegado pra provar e acabei me esquecendo de passar no caixa. Mas, como assim, eu passei pela porta da loja e o alarme não disparou?  Pensei:  "bem, então vai ser tranquilo voltar lá e pagar". Passo de volta pela porta da loja e o negócio péééim! péééim! péééim! péééim! péééim!  


Como nunca roubei antes, fiquei sem saber se nessas horas a pessoa corre para evitar a catástrofe ou se é melhor fazer cara de Cigano Igor daquela novela e evitar qualquer expressão para não expor os seus deslizes. Na dúvida, dei uma carreira até o caixa antes do segurança chamar os reforços. Expliquei o ocorrido, paguei a calça, a vendededora deve tar rindo da minha cara até agora. E pensando que isso, definitivamente, não é coisa de gente rica, nem chique.

4 de out. de 2009

Home Sweet Home

Somos quatro moradores e o apê é um pouquinho diferente do que eu imaginava (o de Friends): não tem portas nos quartos. É o que eles chamam por aqui de railroad, porque o formato parece uma linha de trem com vários cômodos em série. E antes que alguém pense besteira, vou logo explicando que rola todo um esquema pra ninguém ver a bunda de ninguém. 




Entre um cômodo e outro tem cortinas. Esse é o meu.
Atrás da cama tem uma escrivaninha.




Aqui a varanda lateral. A outra vista é para a 1a avenida.





Banheira! Repare na cortina com o metrô de Nova Iorque.
                            


Sim, isso é um sofá no meio da cozinha.
                            





1 de out. de 2009

Where's your passport?

Já cheguei chegando. Tava desesperada pensando que tinha perdido minha mala até ficar mais desesperada ainda quando dois policiais me pararam e perguntaram: "Ei, moça, cadê seu passaporte?" - depois que tinha passado da imigração. E eu lá sabia onde é que tava? Futuquei a mochila todinha e nada. E os caras só olhando. Quando já ia fazer biquinho e chorar achando que ia ser deportada ou aparecer no programa de Cardinot local, um deles disse para o outro: "É dela". E me devolveu o documento que eu tinha largado não sei onde, junto com o juízo. Levei uma bronca. Quem foi que me deixou viajar sozinha?



23 de set. de 2009

Testamento

Eu, Flavinha, deixo para Painho e Mainha a tv livre na hora da novela. Deixo para Claudinha, Marcelo, Celinha e Serginho uma jura de que assim que eu chegar tem vinho e joguinho. Deixo para Davi um beijo babado no nariz. Deixo para Dalvinha um muito obrigada pelo discurso tão bonito e para a família querida que ouviu um abraço gigante coletivo. Para Pedroca, eu não deixo nada não. Para Tia Ubely, fica o prato da sobremesa lambido. Deixo para Jana o meu carro; para o Negão, Nicole e Nina, um par de sapatos esterelizados. Deixo para Aninha, Peninha e Laila uma caixinha no  correio. Deixo para Marcitcha e Nessa uma passagem para João Pessoa. Deixo para André Muhle o meu orkut recém reativado com muitas amiguinhas. Deixo para Ju Lisboa a certeza de que eu tô longe, mas eu tô perto e de que sim, eu já aprendi que essa construção de de texto não rola mais. Deixo para Guga Verçosa, Marcelo,  Gio e Henrique o dever de rezar diariamente pelo Sport. Deixo para Ju Vilaça um monte de força para esta fase e para Carlota o desejo de toda a felicidade do mundo. Ficando estabelecido que uma pode pegar força e felicidade emprestadas da outra sempre que quiserem. Deixo para as duas acima, Drica, Naná, Pê, Tati e Germana um encontro pré-agendado no próximo bazar. Deixo para Luli a missão de cuidar de Leco, para Camilo e Aninha e um beijo na barriga (dela).Deixo para Ju Rique e Dona Célia o site: http://www.notfortourists.com/ Deixo para Fernando Lima, Lulina, Pia, Maria, Fati e Lud e Geo um samba bem bonito. Deixo para Igor, Nanda e Flora uma lembrancinha na portaria. Deixo Léo e Gabi com frio, pois o casaco listrado vai comigo. Deixo para Kahan e Juliet R$50. Deixo para o povo da Casa, Salu, Dezão, Jopa, Breck e Gabi uma cerveja pendente. Para Mané, Mari e o povo da Ampla, deixo o registro de que estar com vcs é tão bom que nenhuma farra é suficiente. Deixo para Ali o banheiro livre, para Luizinho um forrozinho e para o pessoal da Gruponove um monte de coisa a salvo de ser quebrada. Deixo para Rico a minha pauta da semana que vem, para a Criação vários meses sem pipoca queimada e para toda a galera da Level, um coração leviano. Deixo para Marcelo e Miau todo tipo de aperreio. Deixo para Luciano e Luse as coisas deles guardadas. Deixo para Pons, Lenin e Serginho um sorvete africano da Santo Doce. Deixo para todo mundo aqui o meu carinho e para quem eu esqueci um beijo indenizatório. E especialmente para Rique, deixo um GPS, uma tonelada de amor e uma surpresinha embaixo do colchão.